A Insustentável Leveza do Ser...

Ontem, HOje, me aconteceram situações, que me fizeram lembrar tanto da minha vozinha. Tinha treze anos quando ela se foi, mas fez falta a minha vida inteira! Engraçado como uma pessoa pode fazer parte apenas de um terço da sua vida, e fazer falta durante todo percurso. Lembro-me bem, de como eu lhe era Querida. Era a primeira a ser Abraçada, e a última a ser 'solta' rs, na hora da despedida. Sempre me esperava com um sorvete caseiro, acho que só baiano conhece: "abafa'banca" de coco e ameixa. E ainda tinham as balinhas de mel..saudosas balinhas de mel. Muitas vezes ainda vinham quentes, parar na minha boca. O almoço, lembro do cheirinho até hoje, como se ela estivesse aqui, tao perto, logo ali na minha cozinha. Como ela morava num bairro aqui em Salvador, que chama-se Castelo Branco, tinha sempre a impressão de está indo mesmo, para um "Castelo". Era uma casa de dois andares, com uma escada enorme(talvez não fosse tao enorme assim, mas eu era pequena e a dimensão das coisas eram outras)com um jardinzinho na frente. Me parecia a visão do paraíso, com uma Rainha chamada Guilhermina! E essa senhorinha de estatura pequena, branquinha e de cabelos alvos, foi professorinha de formação técnica, e já encontrava-se aposentada. Na época dela, existia o segundo Grau em Pedagogia, e ela lecionou durande muitos anos em sua terra natal, Santo Amaro da Purificação. Quando já em Salvador, foi professorinha de banca, até os 60 anos! Meus irmãos pegaram essa fase, e tiveram o prazer de estudar com ela. Foi a pessoa mais doce que conheci na vida. Tão doce, que até as palavras que saiam da sua boca o eram: "Vem aqui meu chocolatinho", era assim que ela me chamava. Hoje entendo, porque meu Pai jamais nos deu um tapa! Ele tinha sido gerado por essa senhorinha doce, que Deus lhe deu como mãe. Vó, não sei porque tenho sonhado tanto com a Senhora..alegra-me e preocupa-me! Lembro bem que antes de cair de patins e quebrar o queixo(superficialmente) e arrebentar(literalmente) os joelhos na porta da sua casa..tinhamos sonhado juntas, dias antes, com o ocorrido. Espero que dessa vez vozinha, sejam também apenas pequenas dores físicas, porque as da alma, não tenho mais a senhora pra me consolar. Vovó sabia tudo, ou quase tudo sobre a vida..não sei como, conseguiu me dar lições quando criança, que servem até os dias de hoje. Acho que ela sabia que não estaria aqui, nas minhas aflições futuras, quando adulta, quando me tornasse mãe, mulher. Tenho anotado num caderno, para que NUNCA, minha memória me deixe esquecer, as lições que ela me deixou. E a cada visita, um aprendizado, muito mais que apenas doces lembranças, ela me deixou um legado. Hoje entendo, que ela quis passar nos meus tenros anos juvenis, dentro de uma linguagem até onde eu tinha ciência para compreender, advertências!, que hoje, preciso apenas converte-las para linguagem adulta e acalmar meu Coração. Obrigado Vó!
Quis falar sobre a senhora hoje, como quem está com fome de um prato de comida. Usei o título de um livro, que li a muitos anos, e que a história em nada, tem haver com nosso Carinho, nosso Amorzinho. Acho que era um profissional de sáude, enfermeiro, médico, não lembro, que tinha várias mulheres, até uma entrar na vida dele e mudar toda a história. Talvez haja aí, uma semelhança. Pois de tantas pessoas que passaram e que estão na minha vida, nenhuma, fez tanta diferença como a Senhora. Foi o divisor de águas na minha vida..e sua passagem, foi precoce pra mim, mas em tempo certeiro pAra aquEle que tudo sabe, e o faz no tempo que lhe apraz. Talvez ali, naquele momento, ainda muito jovem e com a boca sorvendo as lágrimas, eu tenha entendido que, "Castelos".. não são Cor de Rosa..